19 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

OPÚSCULO VIII

PODER QUE TEM A PAIXÃO DE JESUS CRISTO PARA ACENDER O AMOR DIVINO EM NOSSOS CORAÇÕES

O pe. Baltasar Álvarez, um grande servo de Deus, dizia que não devemos pensar ter feito algum progresso no caminho de Deus, se ainda não chegamos a ter sempre no coração a Jesus crucificado. São Francisco de Sales escreve que o amor que não nasce da paixão é fraco. E é mesmo, porque não dá coisa que mais nos obrigue a amar o nosso Deus do que a Paixão de Jesus Cristo, isto é, saber que o Padre eterno, para nos mostrar o excesso do amor que nos consagra, quis enviar seu Filho unigênito à terra para morrer por nós, pecadores. Isso levou o Apóstolo a escrever que Deus, pelo grande amor com que nos amou, quis que a morte de seu Filho nos trouxesse a vida: “Pela extrema caridade com que nos amou, nos convivificou em Cristo, quando estávamos mortos pelos pecados” (Ef 2,4). Foi isso justamente o que queriam exprimir Moisés e Elias no monte Tabor, ao falar da paixão de Jesus Cristo como de excesso de amor: “E falava de seu excesso que havia de realizar em Jerusalém” (Lc 9,31). Quando nosso Salvador veio ao mundo para remir os homens, os pastores ouviram os anjos cantarem: “Gloria a Jesus nas alturas” (Lc 2,14). Mas ao humilhar-se o Filho de Deus, fazendo-se homem por amor do homem, parecia que antes se obscurecia do que se manifestava a glória de Deus. E afinal não era assim, pois a glória de Deus não podia ser melhor manifestada ao mundo do que pela morte de Jesus em prol da salvação dos homens, visto a Paixão de Jesus nos ter manifestado as perfeições dos atributos divinos. Ela nos fez conhecer a grandeza da misericórdia divina, querendo um Deus morrer para salvar os pecadores e morrer de uma morte tão dolorosa e ignominiosa. S. João Crisóstomo diz que o sofrimento de Jesus Cristo não foi um sofrimento comum e a sua morte não foi uma simples e semelhante à dos homens (Serm. de pass.). Ela nos fez conhecer a sabedoria divina. Se nosso Redentor fosse somente Deus não poderia satisfazer pelo homem, porque Deus não poderia satisfazer a si mesmo em lugar do homem, nem poderia satisfazer padecendo, sendo ele impassível. Pelo contrário, se fosse somente homem, não poderia como tal satisfazer pela grande injúria feita a Majestade divina. Por isso, que fez Deus? Enviou seu próprio Filho, verdadeiro Deus como ele, a tomar a natureza humana par a que assim, como homem, pagasse com a morte a justiça divina e como Deus lhe desse uma satisfação completa. Ele fez-nos conhecer a grandeza da justiça divina. S. João Crisóstomo dizia que não é tanto o inferno, com o qual Deus castiga os pecadores, que demonstra quão grande seja a sua justiça, como Jesus Cristo na cruz, já que no inferno são punidas as criaturas por seus próprios pecados, ao passo que na cruz se vê um Deus martirizado para satisfazer pelos pecados dos homens. Que obrigação tinha Jesus de morrer por nós? “Foi oferecido porque ele mesmo o quis” (Is 53,7). Ele poderia sem injustiça abandonar o homem na sua desgraça, mas o amor que lhe tinha não lhe permitiu vê-los infelizes e por isso escolheu entregar-se a si mesmo a morte tão penosa, para obter-lhes a salvação: “Ele nos amou e entregou a si mesmo por nós” (Ef 5,2). Desde toda a eternidade havia amado o homem: “Eu te amei com uma caridade perpétua” (Jr 31,3). Vendo-se, porém, obrigado por sua justiça a condená-lo e a tê-lo sempre longe de si no inferno, sua misericórdia o impele a descobrir um meio de poder salvá-lo. Mas como? Satisfazendo ele mesmo a divina justiça com sua morte. E assim quis que na própria cruz em que morreu fosse afixado o decreto de condenação do homem à morte eterna, para que fosse destruído ou apagado com seu sangue (Gl 2,14). Dessa maneira, pelos merecimentos de seu sangue, alcançou-nos
o perdão de todos os crimes: “Perdoando-vos todo os delitos” (Gl 2,13). Conseqüentemente espoliou o demônio de todos os direitos adquiridos sobre nós, conduzindo consigo em triunfo tanto seus inimigos como nós sua presa: “E despojando os principados e potestados, sobranceiro os levou cativos triunfando manifestamente deles por si mesmo” (Cl 2,15). Teofilacto comenta: “Como um vencedor e triunfador carregando consigo a presa e os homens em triunfo”. Por isso Jesus Cristo, satisfazendo a divina justiça, ao morrer na cruz, não falou senão em misericórdia; pediu a Padre que tivesse misericórdia dos mesmos judeus que haviam tramado a sua morte e dos carrascos que o trucidaram: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Estando na cruz, em vez de punir os ladrões que pouco antes o haviam injuriado: “E os que foram crucificados com ele o afrontavam” (Mc 15,32), ouvindo que um deles lhe pedia misericórdia: “Senhor, lembrai-vos de mim quando estiverdes em vosso reino” (Lc 23,42), ele, cheio de compaixão, promete-lhe o paraíso para aquele mesmo dia: “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,42). Antes de morrer, nos deu por mãe sua própria mãe: “Então disse ao discípulo: Eis aí a tua mãe” (Jo 19,27). Na cruz, declara que está satisfeito por ter feito tudo para obter-nos a salvação e coroa tudo com a sua morte: “Sabendo então Jesus que tudo estava consumado, disse: Está tudo consumado. E tendo inclinado a cabeça, entregou o seu espírito” (Jo 19,28). Eis o homem livre do pecado e do poder de Lúcifer pela morte de Jesus Cristo e além disso elevado ao estado de graça e de graça maior que a perdia por Adão. “Onde abundou o delito, superabundou a graça” (Rm 5,20). Resta-nos agora, diz o Apóstolo, recorrer sempre com confiança a esse trono de graça, que é justamente Jesus crucificado, para que recebamos de sua misericórdia a graça da salvação e os auxílios oportunos para vencermos as tentações do mundo e do inferno (Hb 4,16). Afetos e oração. Ah, meu Jesus, eu vos amo sobre todas as coisas e quero eu amar senão a vós que sois uma bondade infinita e por mim morrestes? Desejaria morrer de dor cada vez que penso que vos expulsei de minha alma com os meus pecados e que me separei de vós que sois meu único bem e tanto me tendes amado. “Quem me separará do amor de Jesus Cristo?” Só o pecado me pode separar de vós. Mas eu espero do sangue que derramastes por mim, que não haveis mais de permitir que eu me separe jamais do vosso amor e perca a vossa graça que eu aprecio acima de todos os bens. Eu me dou todo a vós, aceitai-me e prendei todos os meus afetos para que eu não ame a ninguém mais senão a vós. O amor de Jesus nos constrange. Talvez Jesus Cristo pretenda muito, querendo que nos demos inteiramente a ele, que nos deu todo o seu sangue e a sua vida, morrendo por nós na cruz? Ouçamos o que diz S. Francisco de Sales sobre as palavras: “A caridade de Cristo nos impele” (2Cor 5,14). “Saber que Jesus nos amou até à morte e morte de cruz não é sentir nossos corações oprimidos por uma violência que é tanto mais forte quanto ele é mais amável? O meu Jesus se deu todo a mim e eu me todo a ele, e eu viverei e morrerei sobre o seu peito, e nem a morte nem a vida me separarão jamais dele”. Jesus Cristo morreu, diz S. Paulo, para que cada um de nós não viva mais para o mundo nem para si mesmo, mas só para ele, que se deu inteiramente a nós: “E Cristo morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que morreu
por eles” (2Cor 5,15). Quem vive para o mundo, busca os prazeres do mundo; quem vive para si mesmo, busca a sua satisfação; quem vive para Jesus Cristo, não procura agradar senão a Jesus e nada teme senão desgostá-lo; não se compraz senão em vê-lo amado e não se aflige senão em vê-lo desprezado. Isso é viver para Jesus Cristo e isso é o que ele exige de cada um de nós. Pergunto novamente: talvez exige muito de nós quem deu seu sangue e sua vida para cada um de nós? Ó Deus, e por que havemos de empregar os nossos afetos em amar as criaturas, os parentes, os amigos, os grandes do mundo que não suportaram por nós nem flagelos, nem espinhos, nem cravos, não derramaram por nós nem uma gota de sangue, e não amar um Deus que por nosso amor desceu do céu à terra, fez-se homem, derramou todo o seu sangue à força de tormentos, e finalmente morreu de dores num madeiro para cativar os nossos corações! Mais ainda: para unir-se mais estreitamente a nós, deixou-se ficar depois de sua morte sobre nossos altares, onde se torna uma só coisa conosco para nos fazer compreender o amor ardente que nos tem: “Mistura-se conosco para que sejamos um com ele: isso é próprio dos que amam ardentemente”, diz S. Crisóstomo. E S. Francisco de Sales acrescenta, falando da santa comunhão: “Em nenhuma outra ação pode-se considerar o Salvador nem mais terno, nem mais amoroso que neta na qual se aniquila por assim dizer, e se reduz a comida para unir-se aos corações de seus fiéis”. Afetos e oração. Mas como é possível, Senhor, que eu, depois de ter sido amado por vós com finezas tais, tenha tido a ousadia de vos desprezar, como mui justamente mo lançais em rosto: “Eu criei e engrandeci uns filhos e eles me desprezaram” (Is 1,2). Eu tive coragem de voltar-vos as costas para satisfazer os meus apetites. “Lançaste-me para trás de teu corpo” (Ez 23,35). Tive ânimo para expulsar-vos de minha alma: “Os ímpios disseram a Deus: retira-te de nós” (Jó 21,14). Tive a ousadia de afligir o vosso coração que tanto me amou. Mas então devo desesperar de vossa misericórdia? Amaldiçôo os dias em que vos ofendi. Oh! tivesse eu morrido mil vezes antes, ó meu Salvador, e não vos tivesse ofendido! Ó Cordeiro de Deus, vós vos deixastes sangrar na cruz para lavar com o vosso sangue os nossos pecados. Ó pecadores, quanto não daríeis por uma gota de sangue deste Cordeiro no dia de Juízo? Ó meu Jesus, tende piedade de mim e perdoai-me; conheceis, porém, a minha fraqueza, prendei por completo a minha vontade, para que ela não se rebele mais contra vós. Expeli de mim todo o amor que não for por vós. Expeli de mim todo o amor que não for por vós. Eu vos acolho por meu único tesouro, por meu único bem: vós me bastais e não desejo outro bem fora de vós. “Deus de meu coração e minha partilha e Deus para sempre”. Ó ovelhinha amada de Deus, vós que sois a mãe do divino Cordeiro (assim a chama S. Teresa), recomendai-me o vosso Filho; vós, depois de Jesus, sois a minha esperança, pois que sois a esperança dos pecadores; nas vossas mãos coloco a minha salvação eterna. “Esperança nossa, salve”.

ÍNDICE

OPÚSCULO IV

REFLEXÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS CRISTO, EXPOSTAS ÀS ALMAS DEVOTAS

Cap. I — Reflexões gerais sobre a Paixão de Jesus Cristo
Cap. II — Reflexões particulares sobre padecimentos de Jesus Cristo na sua morte
Cap. III — Reflexões sobre a flagelação, a coroação de espinhos e crucifixão de Jesus Cristo
Cap. IV. — Reflexões sobre os impropérios feitos a Jesus Cristo enquanto pendia na cruz
Cap. V — Reflexões sobre as palavras de Jesus na cruz Reflexões sobre a morte de Jesus Cristo e a nossa
Cap. VI — Reflexões sobre os prodígios havidos na morte de Jesus Cristo
Cap. VII — Do amor que Jesus Cristo nos demonstrou na sua paixão
Cap. VIII — Da gratidão que devemos a Jesus Cristo por sua paixão
Cap. IX —Todas as nossas esperanças devem ser postas nos merecimentos de Jesus Cristo
§ 1. De Jesus Cristo devemos esperar o perdão de nossos pecados
§ 2. Jesus Cristo nos dá a esperança da perseverança final
§ 3. Da esperança que temos de chegar um dia, por Jesus Cristo, à felicidade do paraíso
Cap. X — Da paciência que devemos praticar em união com Jesus Cristo, para alcançar a vida eterna

OPÚSCULO V

QUINZE MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS CRISTO, PARA O TEMPO QUE MEDEIA ENTRE SÁBADO DA PAIXÃO E SÁBADO SANTO

OPÚSCULO VI

MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS CRISTO

OPÚSCULO VII

MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS CRISTO PARA CADA DIA DA SEMANA

OPÚSCULO VIII

PODER QUE TEM A PAIXÃO DE JESUS CRISTO PARA ACENDER O AMOR DIVINO EM NOSSOS CORAÇÕES

18 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO PARA O SÁBADO

Da crucifixão e morte de Jesus
1. Eis aí o Calvário, feito teatro do amor divino, onde um Deus morre por nós num mar de dores. Tendo Jesus aí chegado, arrancam-lhe do corpo, com violência, as vestes pegadas às suas carnes dilaceradas e o lançam sobre a cruz. O Cordeiro divino se estende sobre esse leito de morte, apresenta suas mãos aos carrascos e oferece ao eterno Pai o sacrifício de sua vida pela salvação dos homens. Eles o pregam e alçam-no na cruz. Contempla, minha alma, o teu Senhor suspenso por aqueles três duros cravos e pendente daquele madeiro no qual não encontra sossego nem repouso. Ora se apoia sobre as mãos, ora sobre os pés, mas redobra a dor na parte em que se apoia. Ah, meu Jesus, como é amarga a morte a que vos sujeitais! Eu vejo escrito sobre a cruz: Jesus Nazareno, rei dos judeus. Afora esse título de escárnio, que sinal existe de vossa realeza? Ah, esse trono de dores, essas mãos encravadas, essa cabeça traspassada, essas carnes dilaceradas, bem proclamam rei de amor. Chego-me enternecido para beijar esses pés chagados. Abraço essa cruz, na qual como vítima de amor quisestes morrer sacrificado por mim. Ah, meu Jesus, que seria de mim, se não tivésseis satisfeito por mim a justiça divina? Agradeço-vos e amo-vos.
2. Estando alçado na cruz, Jesus não encontra quem o console. Dos que o circundam, uns blasfemam e outros escarnecem dizendo: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz”. “Salvou a outros e não pode salvar a si mesmo” (Mt 27,40-42). Nem sequer aqueles mesmos que são seus companheiros de suplício lhe demonstram compaixão, unindo-se um deles aos demais para imprecá-lo: “É um dos ladrões que estavam suspensos blasfemava-o” (Lc 23,39). Maria estava, é verdade, aos pés da cruz, assistindo com amor o Filho agonizante: a vista, porém, dessa mãe dolorosa ainda mais afligia a Jesus, vendo a pena que ela sofria por seu amor. Assim o Redentor, não encontrando conforto aqui na terra, se volta para o eterno Pai no céu. O Pai, porém, vendo-o coberto com todos os pecados dos homens, pelos quais devia satisfazer, disse-lhe: Não, Filho, eu não posso consolar-te: é preciso que até eu te abandone aos sofrimentos e te deixe morrer sem alívio. Foi então que Jesus exclamou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mt 27,46). Ah, meu Jesus, como vos vejo cheio de dores e tristezas. Oh! tendes razão, pensando que tanto sofrestes para ser amado pelos homens e que mui poucos vos amarão. Ó belas chamas de amor, vós que consumistes a vida de um Deus, consumi também em mim todos os afetos terrenos e fazei que eu arda somente por esse Senhor que quis sacrificar sua vida por meu amor sobre um patíbulo infame. Mas vós, ó Senhor, como pudestes morrer por mim, prevendo as injúrias que eu vos faria? Vingai-vos agora de mim, mas vingai-vos de maneira que me seja proveitosa: concedei-me uma tão grande dor, que me faça sempre chorar os desgostos que vos dei. Vinde, flagelos, espinhos, cravos e cruz, que tanto atormentastes o meu Senhor, vinde ferir-me o coração e recordai-me sempre o amor que ele me consagrou. Salvai-me, ó meu Jesus, salvai-me, concedendo-me a graça de vos amar, pois em amar-vos consiste a minha salvação.
3. O Redentor, prestes a expirar, diz ainda com voz moribunda: “Tudo está consumado” (Jo 19,30), como se dissesse: Ó homens, tudo está acabado, realizada está a vossa redenção. Amai-me, pois, desde que não posso fazer mais coisa alguma para conquistar o vosso amor. Minha alma, olha para teu Jesus agonizante: contempla aqueles olhos obscurecidos, a face pálida, o coração que bate ainda, mas vagarosamente, o corpo que já se abandona à morte; contempla aquela bela alma que já está para abandonar seu sagrado corpo. O céu se obscurece, a terra treme, abrem-se os sepulcros, testemunhando a morte do fator do mundo. Jesus, afinal, tendo recomendado a seu Pai a sua bendita alma, expira pela violência das dores e entrega o espírito nas mãos de seu Pai bendito, depois de ter dado do coração aflito um grande suspiro e inclinado a cabeça em sinal da oferta que renovava nesse momento de sua vida por nossa salvação. Aproxima-te, minha alma, daquela cruz. Abraça os pés de teu Senhor morto e pensa que ele morreu pelo amor que te consagrou. Ah, meu Deus, a que estado vos reduziu o amor para comigo. E quem mais do que eu gozou dos frutos de vossa morte? Fazei-me compreender quão grande foi o amor de um Deus ter morrido por mim, para que de hoje em diante eu não ame a ninguém mais fora de vós. Eu vos amo, ó sumo bem, ó verdadeiro amante de minha alma: eu a entrego nas vossas mãos. Pelos merecimentos de vossa morte, fazei que eu morra a todos os amores terrenos, para que eu ame exclusivamente a vós, que unicamente mereceis todo o amor. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.

17 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO PARA A SEXTA-FEIRA

Da condenação de Jesus e subida ao Calvário
1. Pilatos, com medo de perder as boas graças de César, depois de haver declarado tantas vezes a inocência de Jesus, condenou-o finalmente a morrer crucificado. Ó meu inocentíssimo Salvador, que delito cometestes para serdes condenado à morte? pergunta S.Bernardo, e responde: O vosso pecado é o vosso amor. O vosso pecado é o grande amor que nos tendes, é ele que mais do que Pilatos vos condena à morte. Lê-se a iníqua sentença. Jesus a escuta e todo resignado a aceita, submetendo-se à vontade do eterno Padre, que o quer ver morto e morto na cruz por nossos pecados: “Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte de cruz” (Fl 2,8). Ah, meu Jesus, vós aceitastes inteiramente inocente a morte por meu amor; eu, pecador, por vosso amor, aceito a morte quando e como vos aprouver. Lida a sentença, precipitam-se com fúria sobre o inocente cordeiro, impõem-lhe novamente suas vestes e apresentam-lhe a cruz feita com duas toscas traves. Jesus não espera que lha imponham, ele mesmo a abraça, beija-a e coloca-a sobre seus feridos ombros, dizendo: “Vem, minha querida cruz, há trinta anos que eu te busco; quero morrer por ti por amor de minhas ovelhas”. Ah, meu Jesus, que podíeis fazer ainda para obrigar-me a vos amar? Se um criado meu se tivesse oferecido unicamente a morrer por mim, teria conquistado todo o meu amor. Como, pois, pude eu viver tanto tempo sem vos amar, sabendo que vós, meu sumo e único senhor, morrestes por mim? Eu vos amo, ó sumo bem, e, porque vos amo, arrependo-me de vos ter ofendido.
2. Os condenados deixam o tribunal e se dirigem para o lugar do suplício: entre eles se acha também o rei do céu com a cruz às costas: “E carregando sua cruz se encaminhou para o lugar que se chama Calvário” (Jo 19,17). Saí também vós do paraíso, ó serafins, e vinde acompanhar o vosso Senhor que sobre o Calvário para ser crucificado. Ó espetáculo! Um Deus que vai ser crucificado pelos homens! Minha alma, contempla o teu Salvador que vai morrer por ti. Vê como está com a cabeça curvada, com os olhos trêmulos, todo coberto de feridas, escorrendo sangue com aquele feixe de espinhos na cabeça e aquele pesado madeiro sobre os ombros. Ó Deus, com que dificuldade caminha ele, parecendo que vai expirar a cada passo que dá. Ó Cordeiro de Deus, aonde ides? Vou morrer por ti. Quando me vires morto, recorda-te do amor que te mostrei e ama-me. Ah, meu Redentor, como pude viver até agora esquecido do vosso amor? Ó pecados meus, vós haveis amargurado o coração de meu Senhor, esse coração que tanto me amou. Ó meu Jesus, arrependo-me da injustiça que vos fiz, agradeço-vos a paciência que tendes tido comigo e vos amo: amo-vos com toda a minha alma e só a vós eu quero amar. Recordai-me sempre do amor que me consagrastes, para que eu nunca mais deixe de vos amar.
3. Jesus Cristo sobe o Calvário e nos convida a segui-lo. Sim, meu Senhor, vós, inocente, ides adiante com a vossa cruz; pois bem, caminhai, que eu não vos abandonarei. Enviai-me a cruz que quiserdes, que eu a abraço e com ela quero acompanhar-vos até à morte. Quero morrer juntamente convosco, como vós morrestes por mim. Vós me mandais que eu vos ame e eu nada mais desejo senão amar-vos. Meu Jesus, vós sois e sempre haveis de ser meu único amor. Ajudai-me a vos permanecer fiel. Maria, minha esperança, rogai a Deus por mim.

16 de maio de 2024

Programação de Missas no Apostolado do IBP Curitiba

Na Capela, Rua Lamenha Lins, 2115, Rebouças
⛪ 5ª feira, 16/05
18h30, Exposição do Santíssimo
19h30, Missa Rezada

⛪ 6ª feira, 17/05
18h30, Exposição do Santíssimo
19h30, Missa Rezada

⛪ Sábado, 18/05
Vigilia de Pentecostes
17h00, Vigília e Missa Cantada

⛪ Domingo, 12/05
Domingo de Pentecostes

08h00, Confissões
08h30, Missa Rezada

09h30, Confissões
10h00, Missa Cantada

18h30, Confissões
19h00, Missa Rezada

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO PARA A QUINTA-FEIRA

Da coroação de espinhos e das palavras “Ecce Homo”
1. Não contentes com a horrenda dilaceração feita no sacrossanto corpo de Jesus com a flagelação, os carnífices, instigados pelo demônio, e pelos judeus, querendo tratá-lo como rei de teatro, cobrem-lhe os ombros com um trapo de cor vermelha, para simbolizar o manto real, e colocam-lhe na cabeça um feixe de espinhos trançados em forma de coroa e uma cana na mão para significar o cetro. E para que essa coroa não servisse só para ludíbrio, mas também para tormento, com a tal cana calcavam-lhe os espinhos na cabeça para que o ferissem e traspassassem. Assim, os espinhos chegaram a penetrar até o cérebro, no dizer de S. Pedro Damião, e tanto era o sangue que escorria das feridas, que ficaram repletos de sangue os olhos, a barba, os cabelos de Jesus, como foi revelado a S. Brígida. Esse tormento da coroação foi por si dolorisíssimo e foi também o mais longo entre os sofrimentos que lhe infligiram até à sua morte e cada vez que se tocava ou na coroa ou na cabeça se renovavam as horrendas dores. Ah, espinhos ingratos, que fazeis? assim atormentais o vosso Criador? Mas que espinhos? Minha alma, foste tu que com teus maus pensamentos consentidos feriste a cabeça de teu Senhor. Meu caro Jesus, vós sois o rei do céu, mas estais reduzido a rei de opróbrios e de dores. Eis a que estado vos reduziu o amor por vossas ovelhas. Ó meu Deus, eu vos amo, mas enquanto vivo estou em perigo de abandonar-vos e negar-vos o meu amor, como fiz até agora. Meu Jesus, se sabeis que eu vos ofenderei de novo, fazei que morra agora, que espero estar em vossa graça. Oh! não permitais que eu torne a perder-vos: por minhas culpas bem mereceria essa desgraça, mas vós seguramente não merecereis que vos abandone novamente. Não, meu Jesus, não quero perder-vos de novo.
2. Aquela chusma indigna, não satisfeita com ter coroado tão barbaramente a Jesus Cristo, quer motejar dele e multiplicar as afrontas e os ultrajes. Ajoelham-se por isso diante dele e, zombando, saúdam-no: Ave, rei dos judeus; cospem-lhe na face, dão-lhe bofetadas e o insultam com gritos e risadas de desprezo. (Mt 27,39; Jo 19,3). Ah, meu Senhor, a que estado estais reduzido? Se alguém passasse por ali e visse esse homem assim deformado, coberto com esse trapo de púrpura, com aquele cetro na mão, aquela coroa na cabeça e tão escarnecido e maltratado por aquela gentalha, por quem o tomaria senão pelo homem mais infame e celerado do mundo? Eis, pois, o Filho de Deus feito o ludíbrio de Jerusalém. Ah, meu Jesus, se contemplo externamente o vosso corpo, nada mais vejo senão chagas e sangue. Se entro no vosso coração, não encontro senão amarguras e angústias que vos fazem sofrer agonias. Ah, meu Deus, quem poderia humilhar-se a sofrer tanto por suas criaturas, senão vós, que sois uma bondade infinita? Mas, porque sois Deus, amais como Deus. Essas chagas que em vós vejo são provas do amor que me tendes. Oh! se todos os homens vos contemplassem no estado de dor e vitupério em que um dia fostes visto por toda a Jerusalém, quem poderia deixar de ser presa de vosso amor? Senhor, eu vos amo e me dou todo a vós: eis aqui meu sangue, minha vida, tudo eu vos ofereço: eis-me pronto a padecer e morrer como vos aprouver. E como poderia negar-vos alguma coisa, se vós me não negastes nem o vosso sangue nem vossa vida? Aceitai o sacrifício que vos faz de si mesmo um mísero pecador, que agora vos ama de todo o seu coração.
3. Depois de reconduzido a Pilatos, Jesus foi mostrado por este ao povo com as palavras: “Eis aqui o homem” (Jo 19,5). Queria dizer: Eis o homem que trouxestes ao meu tribunal, acusando-o de ter pretendido fazer-se rei; eis que esse temor desapareceu; pois, como vedes, o reduzistes a tal estado que pouco poderá viver. Deixai-o, portanto, morrer em sua casa, e não me obrigueis a condenar um inocente. Os judeus, porém, mais enfurecidos, gritaram loucamente: “Seu sangue caia sobre nós” (Mt 27,25) e depois: Que seja crucificado. Tira-o, tira-o, crucifica-o! (Jo 19,25). Como Pilatos mostrava do balcão Jesus ao povo, assim também o eterno Pai do céu apontava-nos seu Filho, dizendo-nos igualmente: Eis aí o homem que eu vos prometi para vosso redentor e tão suspirado por vós: esse é o meu único Filho, que eu amo como a mim mesmo. Ei-lo tornado por vosso amor o homem mais cheio de dores e mais desprezado entre todos os homens. Contemplai-o e amai-o. Ah, meu Deus, eu contemplo esse vosso Filho e o amo, mas contemplai-o também e, pelo merecimento de suas dores e desprezos, perdoai-me todas as ofensas que eu vos tenho feito. O sangue desse Deus, que é vosso Filho, caia sobre nossas almas e nos obtenha a vossa misericórdia. Eu me arrependo, ó bondade infinita, de vos ter ofendido e me arrependo de todo o coração. Conheceis, porém, a minha fraqueza: ajudai-me, Senhor, tende piedade de mim. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.